quinta-feira, 11 de abril de 2013

BOM HUMOR - CAPACIDADE DE BRINCAR

Está provado que cultivar o bom humor é condição para se manter, não apenas a saúde do espírito, como também a saúde orgânica; é que ele além de reduzir a tensão muscular também estimula a produção  de endorfinas, aquelas substâncias produzidas no cérebro,  responsáveis pelo alívio da dor e pela estimulação sensorial.
 
 
 
“Te vira, bota um sorriso nos lábios...” (Gonzaguinha)
 
Pode parecer falta de seriedade, mas se trata de coisa muito séria. Estamos falando de um sinal de maturidade que nem sempre é percebido e reconhecido como tal.
 
Acontece que, quando se fala de pessoa madura, o pensamento que ocorre para a maioria é de alguém recatado, comedido, equilibrado, serio, nunca um brincalhão, contador de piadas ou de riso fácil; em geral estes predicados são quase sempre atribuídos a pessoas frívolas, pouco sérias, levianas, portanto imaturas.
 
Muito provavelmente nem todo mundo acredita que maturidade emocional pressupõe senso de humor, mas, se observarmos bem, veremos que, longe de ser um cara chato, sisudão, ranzinza, o sujeito maduro é aberto ao riso e ao bom humor. Sabe brincar e fazer gozação com outros sem ofender e, ao mesmo tempo, não se sente ofendido quando os outros o põem na berlinda.
 
A pessoa de mente saudável costuma apresentar um certo desprendimento das coisas do mundo, o que lhe confere um espírito esportivo e faz com que ela saiba conviver e até rir das próprias limitações. Ela demonstra abertura perante a vida e isso nada tem a ver com infantilismo ou regressão. Muito pelo contrário, somente pessoas saudáveis e não submetidas a preconceitos e formalismos são capazes de expressar sua conduta de forma mais solta e criativa.
 
Pessoas dominadas pela preocupação com a autoimagem, “com o que os outros vão falar ou pensar de mim”, é que mantêm uma postura de rigidez. Essas sofrem, porque ficam imaginando que um riso a mais, ou um gesto um pouco mais ousado, vai desmontar toda a estrutura pessoal que a muito custo fabricaram.
 
Essa capacidade de brincar atinge pontos culminantes em certos indivíduos que sabem rir de seus próprios defeitos, e mais ainda naqueles que mantêm o bom humor até nos piores momentos, em situações de extrema desgraça, como ocorreu, por exemplo, com Jan Hus em seu martírio.
 
Jan Hus (1371-1415), líder político e religioso da antiga Boêmia (atual República Checa) foi condenado a morrer na fogueira. Já amarrado, mantinha o bom humor cantando canções populares e ainda teve tempo de brincar com uma velhinha que veio juntar mais alguns gravetos em sua fogueira, dizendo em latim: “Oh! Sancta simplícitas!” (Oh! santa ingenuidade!).
 
Há também o caso de um santo espanhol conhecido por seu bom humor, São Lourenço (ano de 258). Conta-se dele que em seu martírio foi colocado sobre uma grelha incandescente e teria falado ao seu torturador: Por favor, pode me virar do outro lado que este já está bem passado!
 
É incrível como o bom humor pode caber até em circunstâncias tão trágicas.
 
Está provado que cultivar o bom humor é condição para se manter, não apenas a saúde do espírito, como também a saúde  orgânica; é que ele além de reduzir a tensão muscular também estimula a produção  de endorfinas, aquelas substâncias produzidas no cérebro,  responsáveis pelo alívio da dor e pela estimulação sensorial.
 
Acho que fica claro uma coisa: o bom humor é essencial nas relações humanas, até mesmo nas situações que exigem mais formalidade, como são as situações de trabalho em empresas.
 
Não vamos porém exagerar e dizer que ele resolve todos os problemas, mas sim que a presença dele ilumina caminhos que levam a soluções antes não pensadas.
 
Notem que não estou querendo fazer aqui a apologia de um otimismo vazio, que julga vivermos no melhor dos mundos. Trata-se, antes, de uma postura filosófica de quem percebe a precariedade e a transitoriedade das coisas no mundo e avalia os formalismos em seu real valor: pouco, quase nada.
 
Fonte: Waldir Bíscaro é filósofo e psicólogo

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