terça-feira, 4 de junho de 2013

CIÚMES ENTRE IRMÃOS

Grande parte das vezes, a situação de desequilíbrio começa no nascimento do irmãozinho.
 
De acordo com a psicopedagoga Maria Teresa Messeder Andion, diretora e membro do conselho da Associação Brasileira de Psicopedagogia, é natural que a mãe dedique mais tempo ao bebê, deixando o primogênito esquecido momentaneamente. "Quando as pessoas vão visitar um bebê nem reparam no mais velho", diz Maria Teresa. Mas pode acontecer de o filho esquecido dar sinais de que alguma coisa não anda bem. São comuns sintomas como tristeza, apatia, insônia, enurese noturna, falta de apetite e agressividade. "Ele quer chamar a atenção de todos, pois sente que perdeu o trono", explica.

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Tendemos a não dar o devido valor aos relacionamentos com nossos irmãos. Às vezes, prejudicamos esses relacionamentos aproveitando-nos uns dos outros e tratando mal aqueles a quem mais deveríamos amar e respeitar. As escrituras relatam várias situações em que o amor e o respeito entre irmãos constituíram uma grande bênção mútua. Ajude os alunos a compreender que a família pode ser uma fonte de força e incentivo se os irmãos cultivarem laços de amizade e amor.
 
O comportamento agressivo nas crianças pequenas é natural, muitas vezes ela morde ou bate no coleguinha, babá ou professora por pura demonstração de ciúmes. Com crianças mais velhas ou pré-adolescentes, é possível perceber o ciúme do irmão na rebeldia contra o aprendizado, a ponto da raiva ser descontada nos colegas e professores. "São os aspectos afetivos e emocionais demonstrados na questão cognitiva", explica Maria Teresa.

Quando adolescentes, os irmãos tendem a brigar menos entre si, principalmente se os pais dão conta de reprimir situações de discórdia antes que elas aconteçam, e conseguiram estabelecer um canal de diálogo com os filhos. Caso isso não ocorra e eles ainda tenham questões emocionais importantes para resolver, podem perder a concentração nas tarefas e não cumprir com as obrigações. "Tudo passa a ser extremamente chato para o adolescente, ele se faz de vítima para chamar a atenção dos pais e coloca a culpa no irmão menor", explica Maria Teresa. 
 
Quando a briga é entre irmãos adultos, a chance de rompimento é muito maior, porque a influência dos pais diminui consideravelmente. "Os pais podem ajudar a ver a situação sob outros ângulos, mas, nesse caso, sempre cabe aos filhos a decisão", explica Natercia.

Esse "jogo de cintura" dos pais depende do quanto eles verdadeiramente conhecem da personalidade de cada filho, incluindo pontos fracos e fortes. "Quando os filhos ainda são crianças, os pais tendem a tratá-los como se fossem todos iguais", explica Neto. "Os passeios acabam sendo para toda a família, mesmo que a menina de sete anos odeie ir ao parque aos domingos", explica. Tratar filhos diferentes da mesma maneira impede o nascimento de uma cumplicidade que só a relação intima e individual pode trazer.

Punir ou não punir?
Quando é a hora de interferir nas disputas entre irmãos? Para Natércia, o termômetro é o grau de sofrimento deles e da família. "Quando as disputas levam a agressões verbais ou físicas, é hora de impor limites". De acordo com a psicóloga, muitos pais acreditam que o laço de sangue por si só é motivo de amizade entre irmãos, e acabam não interferindo em situações desrespeitosas. Exatamente nesses casos cabe a noção dos limites.
 
A punição, no entanto, também deve ser muito criteriosa. Não adianta bater ou castigar severamente um filho agressor, porque, assim, os pais estão reafirmando um mau comportamento. Sob ameaça, ele para; quando os pais viram as costas, ele repete o comportamento. "Pais que usam castigos severos para deter a agressão de uma criança tendem a ter filhos que apresentam uma grande dose de agressividade na escola e nas brincadeiras fora de casa", explica Alfredo Castro Neto.
 
Por esse motivo, o psiquiatra acredita que os pais devem dar às crianças oportunidade de construir suas próprias justificativas internas e desenvolver um quadro permanente de valores. Além disso, cabe aos pais evitar o desenvolvimento de situações potencialmente explosivas, separando as crianças antes que elas comecem a brigar. No entanto, se uma briga mais grave ocorrer, os pais não devem assumir a postura "deixe que eles se entendam". 
 
Os pais precisam ensinar aos filhos a perceberem os sentimentos envolvidos e a pensarem no bem-estar da relação. Devem intervir firme e controladamente e, se necessário for, aplicar um tipo de punição. No entanto, grande parte das vezes é impossível saber quem começou a briga, já que cada um apresentará a sua versão dos fatos. Nesse caso, Natercia recomenda que os pais penalizem todos os filhos envolvidos e não tentem decidir pelos relatos quem foi o culpado. "Se brigam pelo computador, todos devem ficar sem ele para pensar em uma maneira de compartilhar."

A paz é possível?
Segundo Neto, o melhor caminho é criar uma atmosfera acolhedora e de liberdade emocional dentro de casa. Se a criança fala abertamente aos pais que sente raiva do irmão, ela é imediatamente punida. No entanto, se diz que gosta da irmãzinha, recebe um abraço. "A mensagem é simples: a mentira é premiada enquanto a verdade é punida, e essas ambivalências reprimidas geram agressividade", explica. 
 
O melhor comportamento é entender a raiva e frustração do filho e, junto com ele, transformar os sentimentos. Além disso, a atenção exclusiva beneficia tanto os pais, que passam a conhecer cada filho individualmente, quanto os filhos, que conseguem estabelecer, naquele momento de exclusividade, uma relação direta e única, sem a influência do comportamento dos irmãos ou de alguma competitividade presente na família. "É muito importante que os pais programem passeios com um dos filhos de cada vez para atender a vontade de todos", explica. Além disso, é importante não forçar os filhos a fazerem tudo juntos. É normal que tenham gostos e turmas de amigos diferentes.

Outra atitude que minimiza problemas futuros é a inclusão. Cabe aos pais trazerem o irmão mais velho para participar das atividades e rotinas do novo membro da família. "Ele deve ir ao médico, participar dos exames, dar opinião na cor e modelos das roupinhas, na escolha do nome, ajudar hora do banho, propiciar leituras, contos etc.", sugere Maria Teresa. O mais velho deve se tornar um participante ativo da nova relação com o bebê para não se sentir excluído.

Então é possível ter paz? Difícil. "Relações intensas dificilmente são estáveis e calmas a ponto de serem pacíficas", afirma Natercia. Normalmente, irmãos que nunca brigam mantém uma relação mais superficial. Dentro de uma família saudável, os desentendimentos sempre acontecerão porque ensinam a cada envolvido a pensar diferente e a superar limites. Se um dos filhos se sentir desrespeitado, todos devem pensar como a relação pode ser melhorada, porque as relações familiares são um grande treino para a vida. "Os intolerantes em casa tendem a ser assim socialmente, portanto, ajudar os filhos a desenvolver formas de lidar com a competição, ciúme, rivalidade e diferenças é um bem não só para ele, mas para a sociedade."



Por: Alfredo Castro Neto - psiquiatra e Maria Teresa Messeder Andion - psicopedagoga
 

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