quarta-feira, 18 de setembro de 2013

ADOLESCENTES - TEMPO DE MUDANÇA

Então chegou aquela fase na vida dos filhos que todo pai, por mais que tema, sabe que vai ter de enfrentar. Quem já passou por isso sabe o ta­manho do desafio, e os que ainda não tiveram a chance, certamente imaginam o que vem pela frente.
 
 
 
De repente, mudam a voz, o corpo, o comportamento e, acima de tudo, começam a cristalizar uma identidade própria. Essa é a adolescência, aquele famoso período em que as crianças amadurecem rumo à vida adulta. É uma fase bonita de transformação, em que conflitos são naturais e recorrentes. Afinal, quem disse que é fácil ver o corpo e a cabeça mudarem drasticamente? Sair do universo in­fantil para encarar o mundo adulto? Por isso, insatisfações são normais e fazem parte desse período, porém quando ganham proporções exageradas e interferem no cotidiano dos ado­lescentes, é hora de ligar o alerta vermelho e procurar um especialista.
 
Estudo epidemiológico feito pela pediatra Ana Elisa Ribeiro Fernandes, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Ge­rais (UFMG), mostrou que 62,6% dos alunos de 6 a 18 anos matriculados nas escolas de Belo Horizonte estavam insatisfeitos com o próprio corpo, embora mais de 80% do total estivessem dentro do peso normal. Foram observados 1.183 alunos: 34% preferiam ser mais magros e 29% gostariam de ganhar peso. Entre os insatisfei­tos, 32% eram homens e 30,6%, mulheres.
 
A busca pela aceitação e por uma identidade própria pode se tornar obsessiva e desencadear transtornos que nem sempre são detectados pelos pais e que colocam em risco a saúde e o desenvolvimento dos filhos. “O que o adoles­cente quer é ser aceito e para isso ele precisa ter todos os requisitos do que é considerado ideal. Aí entra a questão do corpo, da magreza, do pa­drão de beleza atual”, afirma a pediatra Simone Lotufo, do Fleury Medicina e Saúde.
 
Ela explica que o adolescente de hoje tem um desafio duplo: superar os conflitos naturais des­sa fase de desenvolvimento e ainda lidar com as pressões da sociedade contemporânea, que va­loriza de maneira extremada a aparência, o cor­po perfeito, o encaixe em um modelo divulgado pela propaganda e pelos meios de comunicação. Em resumo, hoje a exigência é maior. “Antiga­mente, até as misses tinham um corpo mais na­tural. Hoje, as meninas estão muito mais volta­das para a questão física. E os meninos também estão se preocupando mais com isso”, observa.
 
Ser magro tornou-se sinônimo universal de beleza, felicidade, aceitação e aprovação, modelo que estimula a oferta de uma infini­dade de dietas milagrosas e soluções mágicas a curto prazo, como cirurgias e tratamentos estéticos. “A grande diferença é que hoje os adolescentes têm muito mais facilidade de acesso a informações dos grupos, via televi­são, computador, shows, revistas e outros meios”, explica o dermatologista Luiz Gui­lherme Martins Castro, do Fleury. “Eles são expostos com uma freqüência maior a uma idéia de grupo e ficam literalmente massifica­dos. Do ponto de vista visual, a identificação com o grupo é gigantesca – seja na roupa, na fala e no corpo considerado ideal”, completa.
 
Para superar essa fase e ajudar seus filhos a ter uma adolescência tranquila, saudável e li­vre de traumas, os pais devem prestar muita atenção às mudanças que ocorrem nessa ida­de. Nas meninas, as transformações começam a partir dos 8 ou 9 anos, com alterações que vão desde o alargamento de ombros e quadris até o desenvolvimento de ovário, útero e ma­mas, além do surgimento de pelos púbicos, axilares, faciais e nos membros. Nos garotos, há a fase do estirão de crescimento, seguida da mudança na voz, do nascimento da barba e do desenvolvimento dos órgãos genitais. Em ambos, há ainda a explosão da sexualidade. Cabe aos pais atentar para a alimentação e os pequenos sinais de alerta, como desânimo prolongado, falta de vontade de sair de casa ou mesmo exagero na academia.
 
“Os primeiros sinais de distúrbios de ima­gem aparecem muito cedo – há estudos que apontam para os 13 anos. Em muitos casos, essa insatisfação acaba sendo resolvida dentro de casa, com elogios e incentivos dos pais. Em ou­tros, quando não há esse apoio, o problema se desenvolve até desencadear, anos depois, uma doença psiquiátrica que precisa de tratamento”, explica Luciana Conrado, dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia, especia­lizada em distúrbios de imagem nessa faixa etária pela Universidade de São Paulo (USP). Ela explica que muitos pacien­tes que chegam ao consultório do dermatolo­gista em busca de cirurgias e de mil tratamen­tos diferentes, sem nunca ficarem satisfeitos, na verdade apresentam algum distúrbio.
 
Um exemplo fácil: é normal que o adoles­cente se sinta incomodado por ter espinhas no rosto. Não é normal que ele não queira mais sair de casa e passe o dia trancado no quarto por causa disso.
 
Adolescentes que aprendem a gostar de si e crescem aceitos exatamente como são se tornam adultos muito mais ma­duros e menos inseguros. Talvez mais bem preparados para enfrentar os dilemas da ado­lescência de seus próprios filhos.
 

Sinais de alerta

Saiba quando uma preocupação é normal para a idade e quando ela é excessiva. É preciso observar, pois alguns comportamentos dão indícios de problemas como bulimia ou anorexia.
    Normal
  • É natural que, na adolescência, meninas se incomodem com o peso;
  • Nessa fase, há uma preocupação com a aparência, com as roupas, o cabelo. Isso é normal;
  • Olhar-se e observar-se na frente do espelho faz parte do reconhecimento do próprio corpo.
    O que é excessivo
  • Mas é demais quando elas, preocupadas com a balança, passam a tarde inteira na academia;
  • Parar de comer ou evitar refeições com a família e até com outras companhias também é um sinal de alerta;
  • Ficar em jejum por muitas horas também não faz bem. Se esse comportamento se prolonga, é bom ficar atento;
  • Deixar de sair de casa por conta da aparência e repetir esse comportamento muitas vezes não é um bom sinal;
  • Passar horas se observando na frente do espelho, e apontando defeitos inexistentes na aparência, pode ser um sinal de alerta.
 
Fonte: Fleury - Dra. Simone Lotufo, pediatra, Dr. Luiz Gui­lherme Martins Castro, dermatologista,  do Fleury Medicina e Saúde e Dra. Luciana Conrado, dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia, especia­lizada em distúrbios de imagem nessa faixa etária pela Universidade de São Paulo (USP).

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