Tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac... TRIIIIIIMMMMMMMM! São 7h30 da manhã! O relógio desperta.
"Cada corpo tem um ritmo. Respeitar esses ciclos sempre é melhor e muito mais saudável para o organismo. Quando se respeita a própria fisiologia, a chance de ter problemas na saúde é muito menor", afirma o médico do esporte Páblius Staduto Braga Silva, responsável pelos Programas de Atividade Física do Fleury Medicina e Saúde. "Aqueles momentos do dia em que a pessoa sente muito sono são os períodos nos quais vale a pena ela dar uma descansada. Não vai ser produtivo fazer ginástica ou se concentrar em um trabalho muito difícil nessas horas. Esse perfil está relacionado com uma herança genética, mas também com fatores ambientais e com o estilo de vida", explica Silva. A mensagem, apesar de difícil de ser seguida numa rotina atribulada – como a da maioria das pessoas –, é um incentivo gostoso para mudanças de vida, em prol de mais prazer e menos obrigação.
Isso ocorre porque esse respeito ao próprio corpo é a chave, segundo os médicos, para uma vida mais saudável e produtiva. É como conhecer seu relógio interno, que nem sempre está acertado com os ponteiros do horário mundial. Na verdade, num mundo onde tudo caminha para funcionar 24 horas, dormir menos e produzir mais podem ficar cada vez mais desencontrados. "A sociedade moderna induz a uma pressa que realmente só dá prejuízo.
Não posso perder isso, perder aquilo. Assim, você fica sem tempo, e a angústia é gerada. Por isso, tanta neurose hoje em dia. Então, em vez de prazer, você tem frustração.
A oferta é tão grande que você não abre mão. Tem de aproveitar tudo. Mas aproveitar não seria deitar numa rede e dormir?", questiona o endocrinologista José Gilberto Vieira, assessor médico em Endocrinologia do Fleury.
Para isso, o especialista sugere uma mudança de postura. Um esforço, um jogo de cintura, uma pausa para repensar e programar melhor em que momento as atividades do dia serão feitas. O ideal é ter em mente que esse mecanismo pessoal influencia a força, a velocidade, a energia, a coordenação, a capacidade de atenção, a concentração e a criatividade. Além disso, a pressão arterial e a circulação sanguínea seguem um ciclo próprio, e até mesmo a temperatura corporal tem seu padrão – todos eles com duração de 24 horas. Não se podem ignorar o ciclo menstrual da mulher – um ciclo mensal, no qual há várias alterações hormonais, que perduram por toda a vida fértil feminina nem o próprio ciclo da vida, mais amplo e tão complexo quanto o outro e que vai do nascimento à idade adulta, da fase de reprodução ao envelhecimento.
Nosso relógio interno
A medicina já descobriu o potencial e a importância desses ciclos, e o estudo disso tem um nome: é a Cronobiologia. "É uma área que estuda a dimensão temporal na matéria viva. Em outras palavras, a Cronobiologia estuda as funções dos organismos vivos ao longo do tempo – 24 horas, estações do ano, etc. –, já que praticamente todas as funções do corpo humano variam", explica a médica Claudia Moreno, especialista em Medicina Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Entretanto, ela ressalta que, enquanto as pessoas são, de fato, diferentes – existem os matutinos, os vespertinos e ainda aqueles que não têm preferências muito definidas –, estudos científicos têm demonstrado freqüência maior de alguns fenômenos em determinados momentos do dia.
Ainda faltam pesquisas para esclarecer a origem genética de alguns fenômenos, mas já se sabe que as piores crises de asma costumam ocorrer por volta das 4 horas da madrugada, ao passo que as crises relacionadas a doenças cerebrais e cardiovasculares predominam no período da manhã. Já a absorção de cálcio pelo organismo acontece com maior eficiência no início da noite. E a liberação do hormônio do crescimento ocorre durante o sono, principalmente em um estágio específico: o sono de ondas lentas.
Mas por que é importante saber isso? Para que um médico possa receitar a um paciente cardíaco uma medicação a ser tomada antes de dormir, mantendo-o protegido nas horas de maior vulnerabilidade; para uma mulher na menopausa, com risco de osteoporose, poder aproveitar ao máximo as doses de cálcio que ingerir, ajudando a fortalecer seus ossos; para que um especialista possa orientar os pais de uma criança que não consegue dormir direito.
"Uma criança que dorme mal vai ter menor produção de hormônio de crescimento, o que poderá prejudicar seu desenvolvimento. Nesses casos, é possível tratar e melhorar esse padrão", explica Rosana Alves, médica do sono do Fleury Medicina e Saúde. Ela também dá uma boa notícia aos adolescentes: assim como se observa que, em média, pessoas idosas sentem menos necessidade de sono durante a noite, os jovens precisam de mais. "É fisiológico. Nessa fase da vida, eles precisam de mais sono, por isso é tão difícil tirar um adolescente da cama", destaca, afirmando que, com o tempo, eles tendem a regularizar essa necessidade.
A Cronobiologia é extremamente útil para que os médicos conheçam melhor o funcionamento do organismo, inclusive a origem de distúrbios, aperfeiçoando remédios e tratamentos. A sua grande mensagem para os leigos é que cada corpo tem um ritmo, e vai da consciência de cada um observar em que horas se sente melhor, tentando respeitá-lo.
"Comece a se observar e separar hábitos importantes. Você organizará melhor sua vida, tirará maior proveito do seu tempo e será mais feliz com seu corpo.
Fontes: Dr. Páblius Staduto Braga Silva, médico do esporte e responsável pelos Programas de Atividade Física do Fleury Medicina e Saúde, Dr. José Gilberto Vieira, endocrinologista e assessor médico em Endocrinologia do Fleury, Dra. Rosana Alves, médica do sono do Fleury Medicina e Saúde, Dra. Claudia Moreno, especialista em Medicina Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).
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