Quando chegamos ao mundo, antes mesmo de conseguirmos ver, tudo o que existe para nós se apresenta por meio dos sons. São sinais que compreendemos e assimilamos ao longo da vida, vindos das palavras de afeto, dos sons dos animais, dos objetos, das cidades ou das músicas que emocionam e embalam o nosso cotidiano. Por isso, para garantir que essa experiência seja vivida em sua completude, é preciso adotar alguns cuidados, que começam na gestação e perduram por toda a vida.
“Muitas mulheres, como as hipertensas, as diabéticas ou as que têm alguma doença crônica, precisam de medicação inclusive durante a gestação. E esses são fatores que podem afetar a formação do sistema auditivo do feto. Daí, a necessidade do acompanhamento ginecológico e a importância do pré-natal”, explica a médica Adriana Gonzaga Chaves, otorrinolaringologista do Fleury Medicina e Saúde.
Segundo Adriana, estima-se que, a cada ano, e só no Brasil, 300 mil crianças apresentem alguma deficiência auditiva. Dessa forma, recomenda-se que, logo ao nascer, todo bebê seja submetido ao chamado “teste da orelhinha”, capaz de diagnosticar perda auditiva precoce.
“Mesmo que a criança nasça com deficiência auditiva, com o diagnóstico antes dos 6 meses de idade e a intervenção terapêutica adequada, ela consegue desenvolver suas habilidades praticamente como uma criança ouvinte”, afirma Adriana.
Mas apenas o teste não é garantia de uma audição perfeita ao longo da vida. Nos primeiros meses, a capacidade de ouvir pode ser afetada por infecções, medicamentos muito fortes e até mesmo doenças genéticas não detectadas logo após o nascimento. É preciso ficar de olhos abertos, pois, só para ter uma ideia, cerca de 75% das crianças até os 3 anos de idade apresentam algum tipo de infecção.
Por isso, os pais devem observar se a criança, desde bebê, acompanha sons de chocalho, molho de chaves, brinquedos, etc. A partir de 8 ou 9 meses, a criança já deve balbuciar ou emitir sons, o que indicaria que ela está escutando. Nessa fase, os sinais de alerta para os pais são específicos: se o bebê não acompanha sinais e não emite som, é hora de recorrer a um pediatra e, depois, um otorrinolaringologista. Se, após os 2 anos de idade, a criança não obedece a um comando de voz, não atende a chamados, fica muito desatenta ou não consegue nem acompanhar um desenho na televisão, deixando sempre o volume mais alto do que o normal, também é preciso procurar auxílio médico.
Outra dica importante: criança muito irritada, que mexe ou coça a orelha o dia inteiro, gritando pela casa, também pode estar com problemas auditivos.
Na escola
Na fase escolar, se a criança se mostra desatenta durante as aulas e não consegue se concentrar, muitas vezes pode ser um sinal de que não está escutando bem as explicações do professor. Ou então, mesmo quando ouve, pode ter dificuldades em processar a informação, o que mostra a importância de o especialista medir não só a quantidade da audição, como também sua qualidade – isto é, o que a criança faz com aquilo que escuta.
Ainda nessa idade, outro alerta importante, e que poucos pais sabem: “É preciso tomar conta do nariz, porque muitas vezes ele é a fonte dos problemas”, explica Adriana. “O catarro do nariz ou vai para a garganta ou para o ouvido, e na infância o canal que liga os dois é mais estreito e horizontalizado, o que explica a maior incidência de infecções de ouvido nos primeiros anos de vida.” Caso não sejam tratadas, infecções simples, mas recorrentes, podem com os anos perfurar o tímpano levando à necessidade de uma cirurgia corretiva.
O outro segredo está na alimentação: muita cafeína e chocolate são capazes de prejudicar o labirinto, sistema dentro do ouvido, provocando tonturas e afetando o nervo auditivo. “E, claro, tomar cuidado com as hastes flexíveis com ponta revestida de algodão. Elas devem ser usadas apenas para limpar as áreas externas da orelha, nunca o canal interno, o que pode levar sujeira para dentro do ouvido e causar infecções”, lembra a médica.
Fonte: Dra. Adriana Gonzaga Chaves, otorrinolaringologista do Fleury Medicina e Saúde.
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