VERDADE: O ato de coletar, secar, estabilizar e secar um vegetal não o torna um medicamento fitoterápico. Quer dizer, uma planta ou vegetal íntegro, triturado ou pulverizado, mesmo que com propriedades curadoras, não é um fitoterápico. Idem para chás (no Brasil, enquadrados como alimentos), remédios homeopáticos (porque podem apresentar princípios ativos animais, minerais ou sintéticos) e partes de plantas medicinais (possíveis de serem comercializadas em farmácias e ervanárias desde que não apresentem indicações terapêuticas definidas, com acondicionamento adequado e declarada sua classificação botânica) .
Até substâncias simples, como arnica e calêndula, podem fazer mal à saúde se ingeridas indiscriminadamente.
VERDADE: o medicamento fitoterápico, exatamente como acontece com o alopático industrializado (sintético), apresenta restrições ao uso, podendo acarretar danos se administrados inadequadamente.
A arnica, por exemplo, anti-inflamatória natural ótima para cicatrização e combate a hemorragias leves, não deve ser utilizada por via oral por ser comprovadamente hepatotóxica; já a calêndula, também cicatrizante e eficiente para estimular atividade hepática e atenuar espasmos gástricos, em excesso desencadeia nervosismo, depressão, falta de apetite, náuseas e vômitos. É importante considerar, ainda, que algumas substâncias presentes em determinadas plantas interagem negativamente com remédios receitados para o tratamento de alguns males. Exemplos: o hipérico, associado a anticoncepcionais, pode cortar o efeito destes últimos e levar à gravidez; o ginkgo biloba, junto a anticoagulantes (warfarina e ácido acetilsalicílico), é capaz de gerar hemorragias. Por isso, a Anvisa recomenda sempre observar as informações contidas nas bulas e questionar o médico ou profissional de saúde sobre possíveis combinações.
VERDADE: periodicamente, o órgão divulga recomendações para que países formulem políticas e regulamentações nacionais referentes à utilização dos mesmos. No Brasil, o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, em 2008, para garantir à população o acesso a plantas medicinais e fitoterápicos seguros e eficazes, ampliando as possibilidades terapêuticas. O Sistema Único de Saúde (SUS), atualmente, tem 12 fitoterápicos entre os medicamentos disponíveis para a população, industrializados e com registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): alcachofra, aroeira, babosa, cáscara sagrada, espinheira santa, garra do diabo, guaco, hortelã (foto), isoflavona da soja, plântago, salgueiro e unha de gato.
Além da dosagem, o horário e a forma de ingerir tais medicamentos influenciam no resultado.
VERDADE: por isso, o acompanhamento profissional é tão importante. "A cápsula de alho, por exemplo, deve ser ingerida durante as refeições, para não originar mau cheiro nas pessoas; estimulantes como o ginseng não devem ser tomados à noite, para não atrapalhar o sono; já calmantes com a passiflora, se administrados pela manhã, produzem sonolência e dificuldade para dirigir", observa o fitoterapeuta Sérgio Tinoco Panizza, acrescentando que não é aconselhável misturar fitoterápicos com remédios químicos (alopáticos). "O ideal é ingerir o primeiro uma hora e meia antes ou depois, a não ser que o médico prescreva de forma diferente".
Os medicamentos fitoterápicos fazem menos mal ao organismo, se comparados com os alopáticos tradicionais.
VERDADE: como são naturais, certamente são menos agressivos ao organismo. "Sua atuação, de modo geral, se dá de forma mais lenta. Porém, quando o indivíduo adota um padrão de vida regrado e saudável, com exercícios, alimentação balanceada e bons hábitos, os itens funcionais e fitoterápicos, sempre sob orientação médica, auxiliarão na prevenção de doenças e serão fortes aliados no tratamento das mesmas", acredita o bioquímico Rafael Martins Xavier. "A vantagem das substâncias naturais é agir de maneira suave, respeitando o funcionamento do corpo. Porém, não se engane: a ideia de que, porque é natural, quanto mais, melhor, é totalmente falsa. Qualquer produto deve ser administrado na dose certa, pois seu excesso prejudica a saúde", defende a nutricionista Fernanda Granja.
Há casos de toxicidade hepática provocada pelo uso inadequado de fitoterápicos.
VERDADE: isso acontece por vários motivos como automedicação, remédios comprados sem receita e falta de informação. "O fígado é o principal órgão envolvido no metabolismo e na eliminação de substâncias e, portanto, o mais afetado", salienta o farmacêutico Rafael Martins Xavier. A nutricionista Fernanda Granja completa dizendo que alguns fitoterápicos atuam no sistema nervoso central e cardíaco e, por isso, é preciso o máximo de cuidado. "Muitas vezes, o ideal é ter uma receita personalizada para manipulação. Nela, as quantidades são bem específicas para aquele paciente, e geralmente há a preocupação de combinar nutrientes que protegem as propriedades e/ou potencializam os efeitos dos ativos empregados" .
Só alguns profissionais podem receitar fitoterápicos.
VERDADE: quem pode recomendar: médico (de preferência especializado na área de fitoterapia); nutricionista (na prescrição de planta fresca ou droga vegetal, somente para uso oral e não tópico, sendo que não lhe é permitido recomendar fitoterápicos de exclusiva prescrição médica, os tarja vermelha, e somente receitar os produtos com indicação terapêutica relacionada ao seu campo de conhecimento específico); cirurgião dentista (somente nos casos de fitoterápicos dentro da odontologia); médico-veterinário (somente para fitoterápicos dentro da veterinária); farmacêutico(no caso de medicamentos feitos na própria farmácia ou isentos de prescrição médica, e indicações em doenças de baixa gravidade e em atenção básica à saúde; enfermeiro, desde que fizer curso reconhecido de no mínimo 360 horas); e, recentemente, fisioterapeuta (nas práticas integrativas e complementares à saúde).
Fitoterápicos interagem de forma particular, assim, o que faz efeito para uma pessoa pode não fazer para outra.
VERDADE: como dito anteriormente, eles têm ação mais branda e vagarosa e cada organismo os absorve de uma maneira. "O ponto positivo é que, via de regra, oferecem desempenho demorado porém contínuo, com menos efeitos colaterais (e menos agressivos), auxiliando de forma gradativa no cuidado e na prevenção de doenças", conclui o bioquímico Rafael Martins Xavier.
Para ser medicamento fitoterápico, tem que apresentar só ativos vegetais.
VERDADE: de acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), só recebem a classificação de fitoterápicos os que empregam exclusivamente matérias-primas ativas vegetais. "Não são considerados os que incluem na sua composição substâncias ativas isoladas, sintéticas ou naturais, nem as associações dessas com extratos vegetais", informa a entidade. A eficácia e segurança dos mesmos devem ser validadas, ainda de acordo com a Agência, por meio de "levantamentos etnofarmacológicos, de utilização, documentações tecnocientíficas em bibliografia e/ou publicações indexadas e/ou estudos farmacológicos ou toxicológicos préclínicos e clínicos" (de acordo com RDC nº 14 de 31 de março de 2010). Já a OMS (Organização Mundial de Saúde) os identifica como "os que são preparados com substâncias ativas presentes na planta como um todo, ou em parte dela, na forma de extrato total" .
Há vários produtos que não são medicamentos, mas que entram na classificação de fitoterápicos.
VERDADE: conforme explica o fitoterapeuta Sérgio Tinoco Panizza, há itens que são obtidos de plantas medicinais mas não são "remédios", como géis, pomadas e cremes de aloe vera, arnica (foto), calêndula, tinturas vegetais (concentrados líquidos de plantas medicinais), sabonetes e xaropes. "Eles podem ser adquiridos em farmácias, de manipulação ou não, por indicação do farmacêutico com conhecimento e responsabilidade". A Anvisa ainda classifica o que chama de "produto tradicional fitoterápico", que são "obtidos com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais, cuja segurança seja baseada por meio da tradicionalidade de uso e que seja caracterizado pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade" (de acordo com RDC Anvisa nº 13/2013, que dispõe sobre as Boas Práticas de Fabricação de Produtos Tradicionais Fitoterápicos). São estes produtos, não considerados "medicamentos", que a Agência pretende desobrigar de testes clínicos com a iniciativa regulatória que divulgou em março último.
Alguns medicamentos fitoterápicos têm venda livre nas farmácias brasileiras.
VERDADE: há medicamentos deste tipo não controlados, e o problema é que alguns atuam no sistema nervoso central ou cardiovascular, representando riscos para a saúde. Sem que haja necessidade de receita médica, é possível comprar laxantes, diuréticos e fórmulas para tratamento de disfunções como obesidade e enxaqueca, por exemplo. São vendidos junto com os remédios OTC, ou seja, over the counter (depois do balcão, em inglês). "São 36 medicamentos fitoterápicos no total: 27 com registro simplificado, de venda livre sem prescrição médica como castanha da Índia, aloe vera, centela-asiática (foto), alcachofra, camomila; e nove com tarja vermelha, cuja comercialização necessita da prescrição médica", salienta o fitoterapeuta Sérgio Tinoco Panizza.
Veja a lista, agora, dos que precisam de prescrição médica:
urva-ursina, cimicífuga, equinácea, ginkgo biloba, hipérico, kava-kava, saw palmeto, tanaceto e valeriana. "Eles podem provocar efeitos colaterais, principalmente no sistema nervoso central, daí a advertência para que o uso não seja indiscriminado", defende Fernanda Granja, nutricionista clínica com especialização em nutrição funcional e pediátrica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e em fisiologia do exercício pela Universidade Veiga de Almeida (RJ).
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