Uma rede de pesquisadores e instituições de vários Estados do Brasil permitiu
ao país montar a base maior de dados existente sobre pacientes com TOC.
Transtorno
obsessivo-compulsivo é 'pop', mas faz da vida um inferno
O
ginasta Diego Hypólito conta como criava rituais para aliviar o
estresse
'Cheguei
a ficar oito horas no banho', diz a atriz Luciana Vendramini
Empresário
com TOC passava desifentante nos pés e nas mãos
Completando dez anos de atividade, o C-TOC (Consórcio Brasileiro de Pesquisa
em Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo) chegou a conclusões importantes
sobre as características e as formas de tratar o problema.
"Temos evidências de que tanto a terapia cognitivo-comportamental quanto os
medicamentos, usados de forma independente, são igualmente eficazes para os
casos leves e moderados", diz a psiquiatra Roseli Shavitt, do Instituto de
Psiquiatria da USP.
Em casos mais graves, é preciso combinar a psicoterapia com uma classe de
antidepressivos, os inibidores de recaptura de serotonina.
"Os medicamentos não mudam o comportamento diretamente, mas diminuem a
ansiedade e o desconforto causados pelos medos. Já a terapia incentiva o
paciente a enfrentar a situação ou pensamento amedrontador sem recorrer aos
rituais", diz a psiquiatra Albina Rodrigues Torres, da Unesp.
Estudos também mostram que 5% dos pacientes têm melhora completa e espontânea
sem tratamento e 20% alternam períodos sem aparecimento de sintomas com fases
agudas da doença.
O que os pesquisadores ainda não sabem precisar são as causas do transtorno.
"Cerca de 60% dos casos têm origem genética, mas ainda não descobrimos quais
são os genes envolvidos", diz a psiquiatra Christina Hajaj Gonzales, da Unifesp.
Isso não significa que a transmissão seja sempre direta, embora a
hereditariedade também conte: filhos de pais com TOC têm 10% mais risco de ter o
transtorno, segundo Shavitt.
Para os médicos, o transtorno é causado pela
interação de fatores genéticos, neurobiológicos e ambientais.
Em pessoas com predisposição, algumas situações podem desregular o
funcionamento de circuitos que conectam duas áreas cerebrais: a região ligada a
processamentos de emoções, planejamento e controle das respostas de medo e a
área relacionada a informações emocionais, cognitivas e motoras.
As pesquisas no Brasil e no mundo mostram que o TOC atinge entre 3% e 4% da
população em geral, mas a proporção cresce em alguns grupos. Um estudo recente,
da Northwestern University, em Chicago, diz que 11% das mulheres que acabaram de
dar à luz desenvolvem o transtorno. É uma taxa tão alta quanto a da depressão
pós-parto, que atinge 10% das mães.
O estudo incluiu 461 mulheres que tiveram
filhos no hospital da universidade.
"O parto pode ser um estímulo emocional forte o suficiente para desencadear
os sintomas. Além disso, é um período de mudanças hormonais que, em teoria,
também podem estar relacionadas ao surgimento do problema", diz Shavitt.
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