É certo que, com o envelhecimento, homens e mulheres ficam mais expostos a esse tipo de problema, devido a fatores distintos que levam a mesma queixa. Comumente ouve-se que perder urina na terceira idade é normal, e que faz parte do envelhecer. Entretanto essa afirmação é enganosa. Perder urina pode ser considerado até comum no idoso, mas não é normal, e merece atenção médica.
Quando o individuo não tem controle sobre a micção, automaticamente inicia o uso de fraldas e/ou protetores íntimos, a fim de prevenir perdas urinárias publicas, e a troca excessiva de roupas molhadas de urina. Entretanto, a fralda é uma “faca de dois gumes”, uma vez que ela absorve a urina, ajuda o individuo a conviver com a sua queixa sem se sentir totalmente exposto. Entretanto, o ambiente quente e úmido que a fralda proporciona é o ambiente ideal para proliferação de bactérias, predispondo o individuo a infecções urinárias. Durante o envelhecimento da mulher, a privação do hormônio estrogênio permite que a camada média da uretra fique mais delgada e perca seu efeito de fechamento uretral. Dessa forma, a luz da uretra fica maior, o que predispõe a mulher tanto a ter mais perdas urinárias, como a facilitar a subida das bactérias a bexiga, levando a infecção urinária.
Quando um individuo jovem tem infecção do trato urinário (ITU), as queixas clínicas mais comuns são: dor para urinar, ardência após a micção, sensação de resíduo de urina na bexiga, aumento da freqüência urinaria e micções com baixo volume. No idoso, muitas vezes esses sintomas não são notados, comumente nota-se apenas um forte odor urinário. A ITU no idoso pode evoluir e levar a confusão mental com quadros depressivos e de agressividade. Além da ITU, pode haver comprometimento da pele (vulva, glúteos e raiz de coxa) com dermatites de contato e escurecimento da pele.
Dessa forma, o ideal seria trocar as fraldas do idoso com uma freqüência maior. Infelizmente muitas vezes o ideal não é o habitual, porque não podemos esquecer o ônus financeiro que o uso de fralda geriátrica traz ao idoso e a família. Pensando nisso e no bem estar e qualidade de vida do idoso, pode-se fazer um programa de micção programada, onde o idoso é levado para o banheiro para urinar num intervalo de tempo fixo, mesmo que ele não tenha o aparente desejo. Podemos chamar esse processo de desmame de fralda.
Um hábito que deve ser interrompido e que habitualmente é feito por profissionais como “cuidadores”, enfermeiros e familiares, é solicitar ao idoso que urine na fralda ao invés de levar ao banheiro quando o mesmo demonstra a necessidade. Este costume, com o tempo, leva o idoso a perder a percepção de lugar e tempo para suas necessidades fisiológicas. Dessa forma, o desmame de fralda se torna mais difícil, porque exige uma nova educação do idoso. Em caso de indivíduos com certo grau de demência, esse hábito apenas colabora para agravamento do quadro. Quando o individuo urina na fralda, expondo-se ao risco de ITU, acreditando que aquele é o lugar e ambiente certo pra urinar, uma vez que ele está com infecção e fica mais confuso, entramos num ciclo vicioso. Urinar na fralda -> ITU -> confusão com piora da demência -> perder noção de local de urinar -> mais micções na fralda -> ITU de repetição, ...
Poucas famílias e poucas instituições de idosos são informadas sobre esse processo. Dessa forma a qualidade de vida dos idosos tem sido comprometida por ITU de repetições e uso prolongado de medicações. A participação de um fisioterapeuta se faz necessário no acompanhamento dos casos onde o desmame de fralda se faz necessário, e seja viável. Entretanto, aos poucos as instituições estão se atentando a problemática. A Sociedade Beneficente Alemã – Lar Recanto Feliz, já tem na sua equipe médica a visita regular de um urologista, bem como o acompanhamento de uma fisioterapeuta especializada na área com abordagens fisioterapêuticas para reabilitar os moradores, e a criação e emprego do desmame de fralda. A instituição é pioneira no assunto, e os resultados tem sido promissores.
Com o aumento progressivo da expectativa de vida deve-se investir em intervenções e abrir possibilidades para um envelhecimento saudável. Afinal, “não basta dar anos a vida é necessário dar vida aos anos”1.
Christine Plöger
Bacharel em Fisioterapia, especialista em reabilitação do Assoalho Pélvico – Unifesp, com mestranda em Ginecologia – Unifesp – Escola Paulista de Medicina e Coordenadora do Setor de Fisioterapia do Ambulatório de Dor Pélvica e Endometriose – Unifesp – Escola Paulista de Medicina.
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