E eu que pensava que amadurecer só seria difícil, tantas rugas, tantas velhices, tantas amarguras.
Quais seriam estes anos? Os anos da infância, carregados de lembranças, fantasias nostálgicas, medos dos adultos tão grandes e desconhecidos? Quando penso na minha infância, me vejo tão pequena e frágil, que o único lugar que eu me sentia segura mesmo era dentro de minha fértil imaginação, na qual eu podia ser fada, princesa, miss ou professora. E aí lembro que o meu sonho dourado era mesmo ser aeromoça. Voar sempre linda.
Outro lugar de conforto era no calor do colo de minha mãe, sempre pronto para me acolher. Ela estava sempre ali para me acariciar e me cobrir - detalhe este tão importante em minha vida sempre coberta. Depois vamos crescendo e adentrando nos não tão "dourados anos", afinal se não fossemos capas de revistas nos víamos quase sempre horríveis. As torturas dos bailes, os meninos que só olhavam para as outras. Como lidar com os desprezos? Só mesmo tendo amigas. Então, passamos a viver em bandos e vamos nos definindo e criando estilos por meio das imitações dos modelos "das nossas escolhidas".
De novo os anos passam e aparecem amores agora mais fortes. Um despertar do sexual, um encontro, a possibilidade de ser mãe, sonho que realizei e que começou lá atrás, quando a minha mãe me carregava no colo e me fazia ouvir canções tão preciosas.
Agora novamente mais um tempo passou e eu carrego outro bebê, este que já não é o meu, mas é fruto do meu fruto. Que tempos bons! E eu que pensava que amadurecer só seria difícil, tantas rugas, tantas velhices, tantas amarguras. Percebo-me agora tão rica de vida, vida que se renova em cada sonho. Poder voar sem ser aeromoça. Voar para outro espaço - do amor, da compreensão, do aprender a se doar e, por que não, também de se sentir muito mais muito bela.
Fonte: Dorli Kamkhagi é doutora em Psicologia Clinica, mestre em Gerontologia
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