Num mundo onde milhões de pessoas sobrevivem sem as condições mínimas de saúde e, nas mesmas ou noutras latitudes e longitudes, se usa toda a espécie de intervenções para fingir que o tempo não deixa marcas…
Portugal - Gosto do nome da instituição onde trabalha o cientista português Filipe Gomes Cabreiro, em Londres: Instituto do Envelhecimento Saudável. Num mundo onde milhões de pessoas sobrevivem sem as condições mínimas de saúde e, nas mesmas ou noutras latitudes e longitudes, se usa toda a espécie de intervenções para fingir que o tempo não deixa marcas, gosto de saber que há quem não fuja às palavras certas: envelhecimento saudável, aí está uma bela expressão.
Cabreiro faz parte de uma equipa de investigação que concluiu que o gene do envelhecimento não existe, e que um elemento dado como "milagroso" afinal não tem o efeito que alguma indústria cosmética tem propagandeado. Eram, aliás, questões que estavam ainda em aberto, e cujo aparecimento tinha sido muito discutido.
A equipa do português nascido em França e que estudou em Portugal - na Póvoa de Varzim e na Universidade do Porto - acaba de publicar na revista "Nature" um artigo com essas conclusões, suscitando de novo grande polémica na comunidade científica.
Não é fácil ver publicado um artigo nesta como noutras revistas de topo da Ciência. Se for aceite para análise, será entregue a cientistas da mesma área que vão examiná-lo à lupa para avaliar a sua credibilidade. Uma teoria ali publicada recebe, digamos assim, uma garantia. Não será uma garantia absoluta e definitiva, porque a Ciência não funciona assim. O século XX provou que muito do que antes era dado como adquirido e provado foi ultrapassado por novas verdades que são sempre passíveis de nova avaliação. Acabo de ler "O Grande Inquisidor", uma obra do físico português João Magueijo, e senti de novo o deslumbramento pela permanente curiosidade que mudou a vida da humanidade.
Regresso à ideia defendida pela equipa de Filipe Cabreiro e ao nome do instituto onde trabalha.
Uma dermatologista que consultei explicou-me que os produtos cosméticos, na esmagadora maioria, têm um efeito praticamente nulo. O princípio activo que é anunciado na publicidade está ali numa percentagem tão baixa que não é possível ser eficaz.
Este é um tema eterno - o elixir da vida, o combate ao envelhecimento. Hoje vive-se muito mais anos, há vacinas, medicamentos, tratamentos, é possível espreitar para dentro do nosso corpo e encontrar a origem de problemas que antes se sabia que existiam.
A ciência trouxe-nos aqui. Sem ignorar as diferenças que os espelhos mostram, a ideia do envelhecimento saudável parece-me muito mais humana do que qualquer máscara, porque centra a preocupação no que é verdadeiramente importante.
Fonte: Jornal de Notícias, http://www.jn.pt/Opiniao/default.aspx?opiniao=Ana%20Sousa%20Dias
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