Honestidade, justiça, comprometimento.. O momento histórico do 17 de junho
de 2013, faz refletir sobre pontos importantíssimos na formação dos nossos filhos,
brasileiríssimos.
A
primeira coisa que um bebê faz ao nascer é se manifestar. De cabeça pra baixo,
inconformado, ele assiste perplexo às nuances do novo mundo, um mundo com
pessoas que o manipulam pra lá e pra cá, tratam-no como se não tivesse anseios e
pensamentos próprios, como se por estar protegido em sua bolha não enxergasse
tudo com clareza, por ser inexperiente não tivesse direitos, por ser pequeno
fosse frágil. Sim, ele estava quietinho em seu ambiente pacífico e confortável.
Não, ele não estava inerte. Estava maturando, tomando corpo, tornando-se forte
para a revolução a caminho. Novo olhar, novos ares, nada mais seria como antes.
Contrações involuntárias são o estopim. Ele sabe que chegou a hora. Precisa
colocar pra fora sua insatisfação. E então faz o que pode e sabe fazer: se põe a
berrar.
E agora?
Fui para a rua ontem, me manifestar. O que vi, ouvi, li a respeito, debati e
compartilhei nas redes sociais me pôs a pensar sobre os novos tempos que virão.
E do qual eu sou parte ativa, não posso me isentar. Se queremos mudar tudo,
temos que começar a transformação em casa. O futuro está sob a tutela de mães e
pais. É nas famílias que ocorre a verdadeira revolução. O Brasil é fruto da
nossa educação. O dia 17 de junho de 2013 foi um marco, um basta. E nós, sabemos
dizer “basta” a nossos filhos?
Esse momento histórico me fez refletir sobre algumas coisas básicas e
imprescindíveis na formação de um
brasileirinho:
Reclamar
é bom, operar mudanças é melhor – Nada vem de graça, tudo tem um preço. A
impressão que tive em meio ao mar de pessoas do Largo do Batata em São Paulo é
que havia uma questão no ar: “Em que vai dar tudo isso?”. Como transformar uma
insatisfação em ação concreta, em mudança efetiva e consolidada? Com suor. Não o
suor de um dia, mas o da persistência diária. Não apenas o que ergue a bandeira,
mas o que a fabrica. Estamos ensinando nossos filhos a servir? A levantarem do
sofá e irem eles mesmos preparar seus lanches, lavar suas louças, arrumar suas
camas, estudar seus deveres, contribuir de forma ativa? A casa é um mini país. Só
quem estende sua própria toalha no varal terá legitimidade para pendurar seu
pano branco na janela.
Continuidade - Precisamos orientar as crianças para finalizar o que
começaram. Há muita energia sendo gasta à toa. O desenho começa lindo e a
preguiça impera para colorir. A brincadeira foi boa, mas na hora de juntar a
bagunça fica pra depois. O trabalho da escola é chato e protelado infinitamente.
Disciplina faz bem. E deve ser incorporada desde cedo para formar cidadãos
qualificados e empenhados. Para evitar que os produtos que produzimos sejam de
má qualidade. Para extinguir o serviço terceirizado meia-boca. Para prevenir o
retrabalho e o desperdício de tempo e dinheiro.
A
vida não é um videogame, não há novas vidas para serem usadas. Cada fase deve
ser finalizada com persistência ou corre-se o risco de nunca se evoluir. E de
não se importar que as obras públicas fiquem pela metade. Vamos para as ruas,
mas vamos também às reuniões de condomínio, às assembleias públicas aprovar
projetos, assumir o controle das mudanças. Vamos terminar o que começamos,
prosseguir até o fim.
Comprometimento – Dizer e fazer. O discurso deve estar alinhado à
ação. A palavra tem que valer mais do que a assinatura. O que se promete, se
cumpre. O que foi prometido deve ser cobrado. Não deu pra fazer? Justifique. Não
fizeram? Peça um retorno, uma explicação. Não aceite desculpas furadas dos seus
filhos. Atue na prevenção, ensine-os a observar uma postura comprometida com as
pessoas e as coisas. Quem se compromete se importa. E se importar, desculpe a
redundância, é muito importante.
Respeito
– A pessoa está nas ruas exigindo um basta à corrupção, reivindicando que
parem de desperdiçar seu dinheiro suado com regalias no Congresso, não tolerando
mais superfaturamentos, desvio de verbas, impostos altíssimos, aí vai lá e
depreda um orelhão, arrebenta uma lixeira, picha o muro de um centro histórico?
Onde está a coerência? Precisamos ensinar urgentemente aos nossos filhos que o
que é público, diferente de ser de ninguém, é de todos. Meu, seu, nosso. Chega
de pensar que o que ocorre da porta da rua pra fora não nos diz respeito. Diz,
sim! O Brasil é nosso. É um imenso quintal da nossa casa, um jardim coletivo.
Precisamos ensinar nossos filhos a plantar flores e não arrancar a do vizinho.
Precisamos cultivar limites. Já!
Honestidade – Honestidade não é qualidade, é obrigação. Desonestidade
é inaceitável. E merece punição. É fundamental que nossos filhos entendam que
ser honesto não é andar na linha quando ninguém está olhando, é uma questão de
princípios. É retidão de caráter. Então, não, não existe “só dessa vez”, “se não
tem dono é meu”, “se todo mundo faz eu também posso”. Chega. Existe o que é
certo e o que é errado. Vamos revogar a “lei de Gerson”, essa mania de sempre
tirar vantagem. Honestidade. Esse tem que ser o jeitinho brasileiro a partir
de agora.
Justiça
– É preciso lutar pelo que é certo, não pelo que é melhor pra gente. A
verdade nem sempre mora do nosso lado e é necessário estar disposto a abrir mão
de benefícios particulares em prol de coletivos. Você não anda de ônibus, mas
não aceita os 20 centavos. Nossos filhos têm que crescer com a capacidade de
observar, averiguar fontes e fatos variados, ouvir todos os lados envolvidos,
analisar as situações com imparcialidade e desenvolver uma postura de alteridade
para só então se posicionar. E o posicionamento justo nem sempre terá o
resultado que gostaríamos ou favorável. Às vezes, aliás, será exatamente o
oposto. É fácil de ensinar? Não. Não é nem fácil de aprender. Mas depois que
incorporarmos a justiça como uma meta de vida, poderemos dar o segundo passo:
lutar por ela.
A verdadeira revolução começa em casa. Comece a sua. Vamos todos mudar pra
melhor a imagem e o rumo deste país.
Fonte: Ana Kessler
- Publicitária, escritora e hoje é
editora-chefe do portal feminino Tempo de Mulher.
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