domingo, 23 de junho de 2013

OS RISCOS DE TROCAR O DIA PELA NOITE

Seja por necessidade profissional, seja porque simplesmente gostam, muitas pessoas ficam ativas na madrugada. Especialistas explicam os danos causados por este hábito e como os notívagos devem se cuidar.
 


Já reparou que enquanto a maioria dorme à noite, uma parcela da população está em plena atividade? A vida noturna está em grande expansão nos últimos anos, com a ampliação de serviços 24 horas, como supermercados, pet shops, floriculturas, restaurantes, entre outros. Além dos trabalhadores noturnos, há quem prefira, por questões pessoais e genéticas, ficar acordado durante a madrugada, seja em casa ou na rua.
 
“Nós fomos biologicamente programados para dormir à noite”, explica a pneumologista Lia Rita Azeredo Bittencourt, presidente da Sociedade Brasileira de Sono. De acordo com Lia, a ausência de luz, a queda de temperatura do corpo e a secreção da melatonina (um neuro-hormônio responsável por regular o sono) são fatores que ocorrem nesse período e contribuem para o descanso. “Pesquisas demonstram que, durante o dia, as pessoas dormem menos e com menor qualidade, já que o sono costuma ser mais fragmentado”, enfatiza.
 
As consequências para o organismo humano são imediatas: fadiga, sonolência durante o dia, déficit de atenção, de memória e raciocínio, além de predisposição a problemas cardiovasculares e metabólicos.
 
“O notívago pode ter hipertensão arterial, arritmias e outras doenças cardíacas, devido ao aumento de substâncias estressoras (catecolaminas) no organismo e por não haver descanso fisiológico suficiente do sistema cardiovascular, ou seja, a redução da pressão arterial e da frequência cardíaca que ocorre à noite”, alerta a pneumologista.
 
Quem não dorme à noite ainda pode desenvolver predisposição à obesidade, pela dificuldade de ação da leptina (hormônio da saciedade), e ao diabetes, pela maior resistência à ação da insulina. As alterações metabólicas dos lipídios ainda podem aumentar o “mau” colesterol (LDL).
 
“Quem, mesmo não dormindo à noite, mantém a regularidade nos horários de sono, não sofre tanto quanto aquele que tem ritmo irregular”, avisa o neurologista Luciano Ribeiro Pinto Jr., pesquisador do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
 
De acordo com o especialista, a regularidade é importante para a manutenção do ritmo circadiano (de 24 horas) do organismo. Esse ciclo é determinado pelos centros (células) do chamado relógio biológico, localizados no cérebro. São essas células que, de forma harmônica e de acordo com o horário, anunciam como o organismo humano deve se comportar — quais hormônios devem ser produzidos, quando as células de determinados tecidos devem se dividir, qual a concentração de enzimas que deve haver em certo momento...
 
Os ritmos internos do nosso organismo são sincronizados por marcadores externos, como a variação da luz, os momentos em que a pessoa está em atividade (trabalhando, comendo, etc) e a hora em que ela vai dormir.
 
A temperatura corporal, por exemplo, é determinada pelo ritmo circadiano — aumenta durante o dia e atinge o seu máximo no fim da tarde, iniciando uma queda lenta e gradual após às 18, 19 horas e alcançando o seu mínimo no meio da madrugada. A variação de temperatura oscila entre 1 e 1,5 graus entre a mínima e a máxima. Também há uma pequena queda da temperatura entre 11 e 14 horas, que também corresponde ao horário do almoço.
 
É justamente porque a temperatura corporal está mais baixa que o ser humano sente sono durante a madrugada. Quando a pessoa passa várias noites acordada e dorme durante o dia, a curva da temperatura se altera, não subindo muito durante o dia, nem descendo muito à noite.
 
Como a temperatura não diminui na intensidade ideal durante o dia, a pessoa tem dificuldade em cair no sono e mantê-lo. A presença de luz nesse horário atrapalha ainda mais o descanso — pois é no escuro que o corpo produz o hormônio melatonina, regulador do sono.
 
Dormir cada dia em um horário diferente deixa o relógio biológico mais confuso. É por isso que o ser humano deve se habituar a dormir sempre nos mesmos horários, ainda que durante o dia. “Se o sono não ocorre na hora ideal, pelo menos que seja regular”, conclui Ribeiro Pinto (Unifesp).
 
UM QUARTO DAS PESSOAS QUE TRABALHAM À NOITE DESENVOLVEM DISTÚRBIOS DE SONO. AS VÍTIMAS SÃO AQUELAS QUE, POR FATORES GENÉTICOS, IDADE, PROBLEMAS DE SAÚDE, USO DE DROGAS E MEDICAÇÕES, NÃO SE ADAPTAM AO PERÍODO NOTURNO.
 
 
Fontes: Dra. Lia Rita Azeredo Bittencourt, pneumologista e presidente da Sociedade Brasileira de Sono e Dr. Luciano Ribeiro Pinto Jr., neurologista e pesquisador do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

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