quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O RELÓGIO DE CADA UM

Tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac... TRIIIIIIMMMMMMMM! São 7h30 da manhã! O relógio desperta.
 
"Cada corpo tem um ritmo. Respeitar esses ciclos sempre é melhor e muito mais saudável para o organismo. Quando se respeita a própria fisiologia, a chance de ter problemas na saúde é muito menor", afirma o médico do esporte Páblius Staduto Braga Silva, responsável pelos Programas de Atividade Física do Fleury Medicina e Saúde. "Aqueles momen­tos do dia em que a pessoa sente muito sono são os períodos nos quais vale a pena ela dar uma descansada. Não vai ser produtivo fazer ginástica ou se concentrar em um tra­balho muito difícil nessas horas. Esse perfil está relacionado com uma herança genética, mas também com fatores ambientais e com o estilo de vida", explica Silva. A mensa­gem, apesar de difícil de ser seguida numa rotina atribulada – como a da maioria das pessoas –, é um incentivo gostoso para mudanças de vida, em prol de mais prazer e menos obrigação.
 
 
Isso ocorre porque esse respeito ao pró­prio corpo é a chave, segundo os médicos, para uma vida mais saudável e produtiva. É como conhecer seu relógio interno, que nem sempre está acertado com os ponteiros do horário mundial. Na verdade, num mundo onde tudo caminha para funcionar 24 horas, dormir menos e produzir mais podem ficar cada vez mais desencontrados.  "A sociedade moderna induz a uma pressa que realmente só dá prejuízo.
 
Não posso perder isso, perder aquilo. Assim, você fica sem tempo, e a angústia é gerada. Por isso, tanta neurose hoje em dia. Então, em vez de prazer, você tem frustração.
 
A oferta é tão grande que você não abre mão. Tem de aproveitar tudo. Mas aproveitar não seria deitar numa rede e dormir?", questiona o endocrinologista José Gilberto Vieira, as­sessor médico em Endocrinologia do Fleury.
 
Para isso, o especialista sugere uma mu­dança de postura. Um esforço, um jogo de cintura, uma pausa para repensar e programar melhor em que momento as atividades do dia serão feitas. O ideal é ter em mente que esse mecanismo pessoal influencia a força, a velocidade, a energia, a coordenação, a capacidade de atenção, a concentração e a criatividade. Além disso, a pressão arterial e a circulação sanguínea seguem um ciclo próprio, e até mesmo a temperatura corporal tem seu padrão – todos eles com dura­ção de 24 horas. Não se podem ignorar o ciclo menstrual da mulher – um ciclo men­sal, no qual há várias alterações hormonais, que perduram por toda a vida fértil femini­na nem o próprio ciclo da vida, mais am­plo e tão complexo quanto o outro e que vai do nascimento à idade adulta, da fase de re­produção ao envelhecimento.
 

Nosso relógio interno

A medicina já descobriu o potencial e a im­portância desses ciclos, e o estudo disso tem um nome: é a Cronobiologia. "É uma área que estuda a dimensão temporal na matéria viva. Em outras palavras, a Cronobiologia estuda as funções dos organismos vivos ao longo do tempo – 24 horas, estações do ano, etc. –, já que praticamente todas as funções do corpo humano variam", explica a médica Claudia Moreno, especialista em Medicina Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Entretan­to, ela ressalta que, enquanto as pessoas são, de fato, diferentes – existem os matutinos, os vespertinos e ainda aqueles que não têm preferências muito definidas –, estudos científicos têm demonstrado freqüência maior de alguns fenômenos em determina­dos momentos do dia.
 
Ainda faltam pesquisas para esclarecer a origem genética de alguns fenômenos, mas já se sabe que as piores crises de asma costumam ocorrer por volta das 4 horas da ma­drugada, ao passo que as crises relacionadas a doenças cerebrais e cardiovasculares predominam no período da manhã. Já a absor­ção de cálcio pelo organismo acontece com maior eficiência no início da noite. E a libe­ração do hormônio do crescimento ocorre durante o sono, principalmente em um estágio específico: o sono de ondas lentas.
 
Mas por que é importante saber isso? Para que um médico possa receitar a um paciente cardíaco uma medicação a ser to­mada antes de dormir, mantendo-o protegido nas horas de maior vulnerabilidade; para uma mulher na menopausa, com risco de osteoporose, poder aproveitar ao máximo as doses de cálcio que ingerir, ajudando a fortalecer seus ossos; para que um especialista possa orientar os pais de uma crian­ça que não consegue dormir direito.
 
"Uma criança que dorme mal vai ter menor produção de hormônio de crescimento, o que poderá prejudicar seu desenvolvimento. Nesses casos, é possível tratar e melhorar esse padrão", explica Rosana Alves, médica do sono do Fleury Medicina e Saúde. Ela também dá uma boa notícia aos adolescentes: assim como se observa que, em média, pessoas idosas sentem me­nos necessidade de sono durante a noite, os jovens precisam de mais. "É fisiológico. Nessa fase da vida, eles precisam de mais sono, por isso é tão difícil tirar um adoles­cente da cama", destaca, afirmando que, com o tempo, eles tendem a regularizar essa necessidade.
 
A Cronobiologia é extremamente útil para que os médicos conheçam melhor o funcionamento do organismo, inclusive a origem de distúrbios, aperfeiçoando remédios e tratamentos. A sua grande mensagem para os leigos é que cada corpo tem um ritmo, e vai da consciência de cada um observar em que horas se sente melhor, tentando respeitá-lo.
 
"Comece a se observar e separar hábitos im­portantes. Você organizará melhor sua vida, tirará maior proveito do seu tempo e será mais feliz com seu corpo.
 
 
Fontes: Dr. Páblius Staduto Braga Silva, médico do esporte e  responsável pelos Programas de Atividade Física do Fleury Medicina e Saúde,  Dr. José Gilberto Vieira, endocrinologista e as­sessor médico em Endocrinologia do Fleury, Dra. Rosana Alves, médica do sono do Fleury Medicina e Saúde, Dra. Claudia Moreno, especialista em Medicina Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).

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