terça-feira, 18 de junho de 2013

CRIANÇA E O XIXI NA CAMA DE NOVO?

Xixi na cama de novo? Nada de bronca: seu filho precisa do seu apoio. A criança já deixou a fralda há alguns anos, usa o banheiro normalmente durante o dia, come sozinha, veste-se com desenvoltura e realiza outras tantas atividades que demonstram sua independência, mas vive fazendo xixi na cama. Essa história lhe parece familiar? É bem provável. Afinal, aos 5 anos, pelo menos 15% da população infantil tem enurese noturna, expressão que define a perda involuntária de urina durante o sono em pessoas saudáveis, que não apresentam nenhum problema físico ou mental. Aos 10 anos, essa condição está presente em pelo menos 7% dos pequenos. Até mesmo adultos jovens podem sofrer com essa situação, embora em proporção bem menor.
 
 Será por preguiça? Necessidade de chamar atenção? Dificuldade de entendimento? Nada disso. De acordo com o neurologista Hélio Rodrigues Gomes essas crianças apresentam apenas um atraso no desenvolvimento do controle da bexiga, geralmente provocado por causas bem definidas. Assim, não devem ser repreendidas nem castigadas pelo que acontece.
 
Por outro lado, não dá para considerar que as freqüentes madrugadas molhadas depois dos 4 ou 5 anos de idade, quando se espera que uma criança saudável consiga reter a urina enquanto dorme, sejam parte natural da infância e se resolvam de maneira espontânea, com o tempo. Evidentemente, os episódios isolados de xixi na cama não constituem motivo de preocupação. “O problema existe quando ocorrem perdas urinárias noturnas duas ou mais vezes por semana, ou seja, não há noites contínuas secas”, esclarece o neurologista
 
Diante disso, o primeiro passo é abordar a situação com o cuidado e a delicadeza que ela merece. É importante consultar o médico que acompanha a criança para descartar a possibilidade de infecção urinária, assim como de outros problemas que possam estar, de alguma forma, associados à falta de controle urinário noturno, como doenças renais, distúrbios hormonais, malformações no sistema urinário e transtornos neurológicos. “Na grande maioria dos casos, porém, não se encontra nenhuma doença em particular nessas crianças”, atesta Hélio Gomes.
 
Possibilidades de tratamento
Descartadas as causas orgânicas, o tratamento muitas vezes se resume ao estabelecimento de mudanças nos hábitos da criança, acompanhadas de uma dose generosa de apoio e motivação por parte da família. Em alguns casos, o médico pode avaliar, junto com os pais, a necessidade de adotar outras possibilidades terapêuticas. O uso de medicamentos que interferem de alguma maneira no sistema urinário é uma delas, embora sempre haja efeitos adversos a pesar.
 
Outra opção é a terapia de condicionamento, baseada no uso de um sensor, próximo à área genital, que é sensível às primeiras gotas de urina e, ao percebê-las, dispara um alarme, fixo no pijama, para acordar seu usuário. “Num intervalo de dois a seis meses, o artifício condiciona a criança a despertar quando sua bexiga está cheia”, explica o neurologista. Por fim, o acompanhamento psicológico costuma ser interessante para auxiliar esses meninos e meninas a não se sentir culpados por urinar na cama, a recuperar sua auto-estima e a acreditar na sua capacidade de solucionar esse transtorno.
 
Independentemente da conduta, vale muito a pena investir tempo e dedicação para mudar essa rotina molhada. Para a criança, o controle noturno da micção significa que ela é competente, que controla seu corpo e que, portanto, venceu mais um desafio, podendo dormir na casa dos amiguinhos, acampar, viajar e fazer tudo que outras de sua idade também fazem. Para os pais, esse passo significa muito mais que o fim de noites trabalhosas e desconfortáveis. “É uma vitória, uma etapa vencida na educação de seu filho e a certeza de que ele não tem um problema de saúde, mas apenas demorou um pouco mais para aprender a controlar a bexiga durante a noite”, arremata Gomes.
 
Por que pode haver atraso no controle urinário noturno
Segundo o neurologista Hélio Gomes, a demora na aquisição dessa habilidade pode ser decorrente de uma bexiga pequena, com pouca capacidade de armazenar urina, ou da incapacidade de reduzir a produção de urina durante o sono, que ocorre pela ação de um hormônio antidiurético chamado vasopressina. Às vezes, o atraso também pode estar ligado a uma imaturidade nos mecanismos de acordar – a perda involuntária de urina, nesses casos, se deve a um sono muito profundo, que impede o despertar quando a bexiga fica cheia. Qualquer que seja o motivo, sua origem, acredite, pode ser genética. “A possibilidade de os filhos terem enurese é de 45% se um dos pais também fazia xixi na cama na infância e chega a 75% se ambos passaram por isso”, aponta Gomes.
 
E o fator emocional?
Esqueça a hipótese o problema ter sido causado por problemas afetivos ou psicológicos que os pequenos estejam vivendo. “Apesar de ser muitas vezes invocada, essa relação não parece estar fundamentada em nenhuma prova científica”, avisa o neurologista. O que ocorre, segundo o médico, é o contrário: os distúrbios emocionais, como a perda de auto-estima, são o resultado da enurese noturna, e não a causa. “A enurese influencia muito negativamente na personalidade da criança, causando-lhe um sentimento de vergonha, culpa e desprezo por si mesma, além de impor limitações sociais importantes, como dormir na casa de parentes e amiguinhos”, atesta Gomes. Assim sendo, não se deve culpá-la pelo que acontece, tampouco usar de repreensões, agressões físicas ou verbais, castigos, humilhações e comparações com irmãos ou colegas. O tratamento, anote bem, começa com motivação.
 
Mudança de hábito
O estabelecimento de uma nova rotina, cercada de atenção e estímulo, é a base do tratamento da enurese noturna.
• Evite que seu filho tome líquidos pelo menos duas horas antes de dormir. Da mesma forma, impeça que, nesse momento, ele consuma alimentos que estimulam a contração da bexiga, tais como café e chocolate.
• Faça com que a criança crie o hábito de urinar antes de dormir e logo ao acordar – às vezes, por preguiça, medo ou frio, ela fica deitada com a bexiga cheia até que não agüenta mais e acaba urinando na cama.
• Valorize cada vitória com elogios, carinho e demonstrações de alegria e contentamento, participando efetivamente do tratamento.
• Lance mão de algum tipo de estímulo cotidiano para dar ao tratamento um tom lúdico e atrativo. Uma boa idéia é elaborar um calendário no qual sejam colados adesivos em cada dia que a criança acorde seca e estabelecer uma premiação para determinado número de manhãs consecutivas secas.
 
Fonte:
- Hélio Rodrigues Gomes, neurologista

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